Era um covarde. Ao invés de sangue, tinha um líquido pusilânime correndo nas veias. Ele sentia isso. Era um fato - E fatos não se discutem, não se questionam, aceitam-se. Okey. E além de covarde, era um fraco. Fugia quando queria ficar. Desviava. Não tinha forças sequer para discar um número - mesmo que o que mais quisesse fosse ouvir aquela voz outra vez. Achava que não teria outra chance. Sentia medo. Abduzia. Nunca respondia as mensagens SMS dela. Virou campeão na arte de evitar. Deixava-a sozinha. Escondia-se de si mesmo. Acampava nos finais de semana na tentativa de fugir das próprias frustrações e tolices. Vivia os dias cansado. Passava as noites acordado. Não sabia mais quais desculpas dar, mesmo assim, desculpava-se sempre. Arrependia-se como nunca. Chorava a seco. Mantinha aquele ar de cara ocupado. Sustentava incansável o semblante de homem maduro. Tinha a mente vazia. Fingia acreditar que eram importantes suas ocupações inúteis. Contudo, nem era capaz de enganar a si mesmo.
Ah se ela soubesse... Se ela soubesse que o cara tão tão tão interessante não era nada além de um garoto de 19 anos - Que andava de ônibus e não sabia dançar. Que ouvia as músicas de sempre, perfeitas para servirem de trilha sonora de momentos que ele não viveu. Se ela percebesse o quanto ele sofria por arrogância. Se ela entendesse que por baixo daquele orgulho todo morava um ser triste e irremediavelmente aborrecido com o avesso do espelho no qual se via todas as manhãs, sozinho...
Se ela soubesse, quem sabe tentaria mais uma vez ¬¬
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