terça-feira, 20 de março de 2012

É, passou... mas hoje eu te vi. E te olhei. E sorri. E me deu vontade de dizer que durante todo esse tempo eu senti muito a sua falta. Eu-sinto-muito-a-sua-falta. Mas você me viu, me olhou e sorriu e eu, então, emudeci vendo seus olhos verdes brilharem e tudo fazer festa no seu rosto. A verdade é que tudo passa: as horas passam, os dias passam, a chuva passa e o arco-íris vai embora. E o que resta é a memória, o que resta é o amor, é a certeza de que o que é verdadeiro permanece, fica, faz sombra e cria raiz. Você não sabe, mas de lá pra cá, os dias arrastaram-se na melodia enfastiada dos ponteiros do meu relógio e eu me arrastei na melodia cansada da brisa que te trazia até minha janela nas tardes de domingo. Sempre à espera de você que, sabia, não ia voltar. Inutilmente segui novos caminhos, peguei caronas e atalhos (mais caronas que atalhos), mas sempre parei no meio da estrada, sempre olhei pra trás na esperança de te avistar, sentei, te esperei, chorei e peguei outra carona. Eu vivo de caronas, esperando um dia chegar em algum lugar onde me devolvam tudo que você me roubou. Sim, tudo passa. Um dia você também vai passar, talvez nessa passagem você resolva ficar e, quem sabe, façamos nossa casa no meio do nada, ou no meio do tudo que ainda nos resta. Nosso amor é uma criança que você abandonou ao nascer. Uma criança que cresce e caminha a passos lentos e exaustos, velha criança que não enxerga mais a longas distâncias. Nosso amor é uma moldura sem retrato em busca dos rostos que antes ali sorriam. O amor envelhece, a memória desgasta, mas lá no fundo tem uma coisa que ainda queima, e arde, e dói. E aí acontece que o amor não espera mais por mim nem por você, espera por alguém, qualquer alguém que o leve e cuide e guie e queira bem. O amor não passa, adormece. Se vai aos poucos na esperança de um dia saber como voltar (eu te deixei as pétalas das flores que me deu por onde passei, para que um dia possa me encontrar). Escrevo-te sem parágrafos, pausas e fôlego mais uma carta das que não te mandarei, só porque hoje te vi. E te olhei. E sorri...
By S.O.

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