segunda-feira, 23 de julho de 2012

Eu sempre admirei muito aquelas gurias que davam foras diretos, do tipo que você não teria mais dúvidas do que elas sentem por você. Mas, como sortudo que sou, sempre me deparei com o tipo de guria que resolvia exaltar a pior qualidade que eu tinha em meus tempos infanto-juvenis: ser um cara legal.
“Caras legais” é a raça poodle pra toda mulher. É o cara que vai ajudá-la naquela prova de álgebra linear em que ela não sabe nem somar, vai levá-la pra ver aquele filme que ninguém quis ver com ela, vai fingir que gosta de ouvir o que ela fala só porque está interessado ou, na pior das hipóteses, porque gosta dela. No final das contas, ela vai passar a mão na cabeça, deixar de lado e partir pra outra.
Parece equivocado o que eu estou dizendo, que é lógico que não é bem assim, afinal de contas, que mulher recusaria aquele cara que faz tão bem à ela desta forma? A minha resposta é: todas. Todas as mulheres vêem na espécie de cara legal um tipo de porto seguro. E nenhum porto seguro serve como primeira opção de embarque de alguém. Uma mulher necessita daquela movimentação num relacionamento, seja por necessidade de emoção, por fuga, por querer se sentir em perigo ou por puro capricho. A verdade é que ninguém quer se ancorar naquela categoria estereotipada como certinho, como previsível, como perfeito demais pra ela.
E é por isso que a maioria das gurias acaba se apaixonando por aquele sujeito todo errado da vida. Porque ele oferece exatamente o que ela precisa, em tese, num relacionamento: a sensação de imprevisibilidade. Mas, enquanto está explicado o lado feminino da questão, o “cara legal” fica parado com cara de babaca enquanto a guria dispara para ele todos os adjetivos que ela tem a seu respeito. “Mas você é especial demais para mim, eu não quero ter nada com você pra não estragar isso.” “Mas você é foda, você é perfeito pra mim, não quero que seja assim…”
E por aí, o “cara legal” se desaponta e se questiona o porquê de ser legal. Ele se questiona se há algo de errado em querer alguém bem, em não pensar em ter algo com ela e nunca mais dar as caras ou fingir que não a conhece. O grande problema da frustração do “cara legal” é que a guria deixa uma espécie de expectativa. E eu juro que vejo que algumas delas não fazem por mal. Mas sabe aquela história que eu contei sobre ele ser um porto seguro? Então, é bem isso. Se nada der certo, ela se ancora nele antes que a tempestade faça o barco naufragar. Se nada der certo, ele é o contentamento dela com uma situação que ela não pôde mudar. Se nada der certo, ele é seu plano Z.
E não as culpo por ter essa visão do “cara legal” como raça menosprezada. Não mesmo. Só acho engraçado esse longo ciclo vicioso. Porque o “cara legal”, caso resolva atender às necessidades dela se tornando um grande filho da puta, acaba por sair da categoria poodle e chega à categoria Rottweiler: perigoso demais e babaca demais pra ela. Ele se torna exatamente o oposto do que ela queria. E o guri continua achando que o problema era com ele… Coitado de quem for pagar a conta do analista mais tarde.
A grande moral da história é que aquela máxima do clichê “Não trate como prioridade quem te trata como opção” representa um grande beco sem saída pro poodleman.  Enquanto ele fica naquela dicotomia entre não saber o que fazer e não querer perder tudo de uma vez, a guria brinca de passear com ele no bosque e depois sair pra se exibir com o Pastor Alemão do vizinho. E ela só vai saber que o cachorrinho que a acompanhava fielmente era quem realmente importava no momento em que o barco naufragar e o porto seguro não for mais seu.By D.B

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