quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Se eu disser pra vc q hj acordei triste, q foi difícil sair da cama, mesmo sabendo q o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava p/ a farra de viver, mesmo sabendo q havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais q faço sem nem prestar atenção no q estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir p/ o computador, sair p/ as compras e reuniões – se eu disser q foi assim, o q vc me diz? Se eu lhe disser q hj ñ foi um dia como os outros, q ñ encontrei energia nem p/ sentir culpa pelas minhas letargia, q hj levantei devagar e tarde e q ñ tive vontade de nd, vc vai reagir como?
Vc vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer q tem gente vivendo coisas muito mais graves do q eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer p/ eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela q sempre fui, velha de guerra.
Vc vai fazer isso pq gosta de mim, mas tbm pq é mais um q ñ tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, q é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Ñ sorriu hj? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já p/ o seu psiquiatra.
A vdd é q eu ñ acordei triste hj, nem mesmo com uma suave melancolia, está td normal. Mas qdo fico triste, tbm está td normal. Pq ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo qto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, q ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste ñ é estar deprimido.
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões tem essa mania de serem discretas.
Cazuza já dizia entre os versos de sua música q pega mal sofrer. Pois é pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer q está td bem, melhor desamarrar a cara. “Ñ quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Tds cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços ñ são p/ compreende-la, e sim p/ disfarça-la, sufoca-la, ela q, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade q exalta apenas oba-oba e a verborragia, e q desconfia de quem está calado demais. Claro q é melhor ser alegre q ser triste, mas melhor mesmo é ninguém privar vc de sentir o q for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo q ñ se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias q ñ estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas p/ camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites p/ festas em q nd temos p/ brindar. Q nos deixem quietos, quietude é armazenamento de forças e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até q venha a próxima, normais q somos.

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